sobre o fogo [com um cheirinho a Vinicius de Morais]
alguem me pediu lume.
não sei se o meu fogo chega tão longe [...]
recordo uma canção do Chico:
" sei que a légua vai nos separar
tanto mar, tanto mar
sei tambem quanto é preciso pra
navegar, navegar.
manda a primavera pá
cá estou carente
manda urgentemente algum cheirinho de alecrim[...]"
o que me chegou foram ecos do Sul.
porque para lá viagei este fim de semana,
rumo a um pôr do Sol no Alentejo.
porque fiz a viagem a ouvir o ultimo disco do Chico.
alguem no Sul me pede lume e ardo;
"sonhei que o fogo gelava
sonhei que a neve ardia
e por sonhar o impossivel
sonhei que tu me querias"
já disse que amo o Chico?
após o jogo de Portugal / Inglaterra,
estou na piscina na quinta dos meus primos,
o céu é laranja e ardo na frescura.
ainda mais a Sul, de Buenos Aires,
Minino Garay e os seus tambores do Sul,
marcam os compassos de um tango;
"[...] de toda a miseria se puede salir
la humildad del hombre es su porvenir[...]
ardo!
sábado à noite, em Évora,
o reencontro com o Manel Bocha,
um dos meus melhores amigos,
não o via há anos.
um abraço apertado.
diz-me:
- é isto que define uma grande amizade,
três anos sem te vêr e parece que estive ontem contigo...
não sei como pude estar longe tanto tempo,
perdido no frio daquele Norte.
faz-me falta este Sul!
ardo na sua plenitude.
talvez seja este o segredo de chegar longe.
desvanecer em fumo de tanto arder.
talvez que fintando os ventos Atlânticos e os desvios dos caminhos do mundo,
uma pequena nuvem viajante se aviste no céu,
esconda o Sol por uns segundos,
e largue meu fogo em chuva, no colo de uma moça dos trópicos.
que uma gota de água roube a seus verdes olhos, ainda que por um momento,
um breve sorriso ardente.
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